Reproduzir ratazanas é tão simples que pode acontecer por acidente. Basta juntar macho com fêmea e esperar pelo milagre da multiplicação. Já criar conscientemente ratazanas domésticas é bem mais complicado.
Criar com objectivos
O objectivo essencial de qualquer criador deve ser a melhoria da sua linhagem.
A linhagem é uma estirpe (um grupo de descendentes com a mesma origem genética), conseguida e mantida principalmente através de criação selectiva.
Para conseguir e manter padrões de excelência é preciso considerar constantemente saúde, temperamento e tipo. Esta é uma tarefa impossível sem o auxílio do pedigree: o registo genealógico de todos os indivíduos de uma linhagem, tão detalhado quanto possível. O exame deste registo permitirá tirar conclusões decisivas quanto ao melhor a fazer num projecto.
Para atingir o seu objectivo, o criador tem ao seu dispôr três métodos de criação selectiva: outcrossing, line breeding e inbreeding (endogamia).
Mais sobre o assunto em breve.
Escolher as ratazanas
O macho
A escolha do macho certo é crucial para o projecto de criação. Ele será o elemento chave, podendo passar a sua informação genética até depois dos dois anos de idade. Os machos podem passar por uma fase em que as suas hormonas estão em alta, tornando-se dominantes e possivelmente agressivos, entre os quatro e os oito meses. Assim, um macho não deve ser cruzado antes de ultrapassada essa fase, para que possamos observar o seu carácter depois de amadurecido. Esperar vai permitir-nos observar também se cresce saudável e com bom tipo.
Animais com problemas respiratórios ou que passaram por tratamentos longos com antibióticos devem ser retirados do projecto. É bom descobrir o máximo possível sobre os seus antepassados. Problemas de saúde, longevidade… tudo isso é hereditário e uma mais valia saber, daí a importância de manter um pedigree.
Um bom macho deve ser de constituição sólida, musculado mas não gordo, pesando de preferência mais de 500gr (quanto maior melhor). A sua cabeça deve ser larga. A cauda deve ser grossa e bem colocada, com comprimento igual ou superior ao do corpo. Os olhos devem iguais, de bom tamanho. As orelhas devem ter uma forma perfeita.
A fêmea
Praticamente tudo referido acima pode ser aplicado à escolha da fêmea, com algumas diferenças.
Existe alguma discussão à volta da idade ideal para cruzar uma fêmea pela primeira vez. Há concordância em relação à idade mínima: não antes dos quatro meses. A idade considerada ideal é entre os cinco e os seis meses. Mas no que toca à idade máxima, as opiniões dividem-se. A fêmea atinge a meia idade aos nove meses e há quem defenda que não deve ser cruzada pela primeira vez depois disso, mas não há provas de que corra um risco real. A fêmea deixa de ser fértil entre os 15 e os 18 meses.
A ratazana deve ser saudável, provindo de uma linhagem livre de tumores mamários. Deve ter o melhor temperamento possível, viva mas não assustadiça. O seu corpo deve ser longo e vigoroso, não demasiado pesado. Uma ratazana gorda demais terá dificuldades. Um bom peso para iniciar uma fêmea estará à volta dos 300gr.
A sua cabeça deve ser mais estreita, longa e pontiaguda que a de um macho.
O acasalamento
A fêmea entra no cio a cada 5-6 dias, a não ser que esteja grávida ou a amamentar. O cio vai durar normalmente, do início da noite até de madrugada. Se puseres a mão sobre o seu lombo podes observá-la a assumir a posição de acasalamento – lordosis – arqueando as costas e permitindo aos seus genitais rodar 90 graus para facilitar a cópula. As suas orelhas também podem vibrar, de maneira atractiva. Outras fêmeas poderão montá-la, numa simulação de acto sexual.
Apesar de as ratazanas conseguirem criar durante todo o ano, as melhores alturas para fazer uma ninhada são durante a Primavera ou o Outono, para não sujeitar a fêmea grávida aos picos de temperatura do Verão ou do Inverno. Durante os meses mais frios a fêmea pode nem sequer entrar no cio.
Uma vez que macho e fêmea não devem viver sempre juntos, o que resultaria em ninhadas sucessivas, extremamente cansativas para a fêmea, é preciso juntá-los durante o cio da fêmea, e para isso há duas opções.
Uma opção é deixar macho e fêmea juntos na mesma gaiola durante aproximadamente sete dias. Este método tem a vantagem de ser eficaz: durante esses sete dias, a fêmea há-de eventualmente entrar no cio. Tem a desvantagem de não sabermos exactamente quando se deu a cópula, e assim ser mais difícil prever quando nascerão os bebés. Pode também ser mais difícil reunir fêmea e macho aos seus companheiros de gaiola, pois passaram muito tempo afastados.
A outra opção é observar quando é que a fêmea parece estar em cio e juntá-los então, por algumas horas ou por uma noite. Com este método podemos prever exactamente quando se dará a ninhada e será fácil voltar a reunir o casal com os seus companheiros. A desvantagem é que pode ser difícil detectar os sintomas de cio da fêmea, podemos não acertar no momento certo.
Caso o macho fique junto com a fêmea durante todo o tempo da gravidez é preciso retirá-lo antes do parto, pois a fêmea entra no cio imediatamente a seguir!
A gravidez
O tempo de gravidez dura entre 21 e 24 dias, sendo preciso estar atento a situações de risco após esse tempo. Em raros casos de implantação tardia a gravidez pode estender-se até 35 depois da cópula.
A alimentação da ratazana grávida deve ser o mais saudável e completa possível, mas não é aconselhável aumentar demasiado a quantidade de comida. A fêmea vai ganhar entre 100 a 150gr de peso durante a gravidez.
Alguns criadores defendem que não se deve incomodar a fêmea durante o tempo de gravidez. Acho que é seguro continuar a manuseá-la diariamente, mas reduzindo o tempo que passa fora da gaiola à medida que o momento do parto se aproxima. O stress pode causar absorção da ninhada pela fêmea.
A fêmea pode passar por uma mudança de temperamento durante a gravidez, causada pelas hormonas, ascendendo temporariamente a alpha do grupo. A fêmea pode ficar com as suas companheiras durante todo o tempo da gravidez e parto, desde que não hajam mais fêmeas grávidas no grupo (o que originaria lutas pelas crias), mas pessoalmente prefiro dar-lhe espaço e intimidade numa gaiola aparte.
A gaiola onde se dará o parto não deve ter níveis ou outros objectos de onde as crias possam cair ou magoar-se. É preciso ter em atenção o espaçamento entre as grades, devido ao pequeno tamanho das crias recém-nascidas. Pode ser melhor optar por um tanque de vidro ou caixa plástica de bom tamanho, com tampo em rede para boa ventilação.
Deve fornecer-se bastante material para fazer o ninho, de preferência de cor branca para que se possa estar atento a sangramento excessivo. Tiras de papel higiénico, por exemplo. Algodão ou tecidos fibrosos são desaconselhados. A fêmea pode entrar em frenesim, fazendo e refazendo ninhos gigantes, ou não fazer nenhum até depois do parto.
O parto
A fêmea grávida dorme muito, mas nos momentos que antecedem o parto vai começar a agitar-se. O início do parto é assinalado por uma mancha de sangue aguado na uretra, demorando uma ou duas horas a partir daí. A fêmea não precisa da nossa assistência, pelo contrário, podemos stressá-la ao intervir. Assim o melhor é deixar a pequena estar e ir observando à distância.
Se acontecer o parto prolongar-se demasiado, convém estar alerta a sinais de problemas.
É normal haver algum sangue claro e aguado, mas se houver sangramento excessivo, espesso, escuro ou acastanhado, quer dizer que os bebés já estão mortos dentro dela. Neste caso tem de ser posta a antibióticos para evitar uma infecção.
Se houver cessação das contracções quando ainda parecem vir bebés a caminho, pode haver um bebé a bloquear, por ser demasiado grande, estar virado de maneira errada ou já estar morto. A maioria dos partos corre bem, mas quando não é assim, os resultados podem ser fatais, para mãe, bebés, ou ambos. O veterinário pode ter de intervir, utilizando oxitocina (que também pode ser utilizada para estimular a fêmea a produzir leite) ou realizando uma cesariana. Infelizmente quando se recorre à cesariana a fêmea já está tão esgotada que dificilmente sobrevive à operação. Mesmo sobrevivendo, pode morrer poucos dias depois devido ao choque.
Pode ainda acontecer que a fêmea não resista, mas as crias sobrevivam. Neste caso o melhor é encontrar outra fêmea com crias de idade semelhante. Para facilitar a adopção devemos esfregar as crias novas em litter do seu ninho. Normalmente a fêmea aceita-as.
Caso não exista essa opção, é preciso estar preparado para criar os recém-nascidos à mão. Para isso recomenda-se a leitura dos artigos Caring for orphaned baby rats or mice e Raising orphaned rats or mice.
http://www.rmca.org/Articles/orphans.htm
http://www.ratfanclub.org/orphans.html
Fonte: http://fancyratsportugal.wordpress.com/
by Maria-Mar